Para ti, para São Paulo
É bonito que um belo espírito sorria para si mesmo e é um momento sublime aquele em que uma grande natureza se considera tranqüila e seriamente. Mas nada supera dois amigos que vislumbram um no outro, clara e plenamente, o que há de mais sagrado na alma do outro e aos quais é dado, na felicidade partilhada de seu valor, não sentir seus limites senão pela complementação do outro. É essa a intuição intelectual da amizade.
Schlegel
Querido,
Fiz de ti o espelho
Onde tenho refletido
Meus defeitos
À distância.
Dei para rasgos líricos
Sem pejo
De que confundas
Meu desejo
Oh minha mentira
Com teu próprio espelho
Em que me vejo.
Ah! Terei de ser eu
A ponderar as diferenças
Entre as imagens e as coisas?
Só para que não te machuques
Oh muso
Conseqüente?
Porque eu tenho
Meus macaquinhos bem
No sótão…
Intento contra as sutilezas
Pela virilidade
De minha verve.
O amor é outra coisa.
O amor é aquele beija não beija
De que Carlos sempre me alerta.
O amor é isto, Maryllu.
Nunca me canso de repetir.
Porque assim
Ao menos
Aponto
Algo
Trágico
Para quem se lembrar bem de Carlos.
Que me esqueçam
A começar de ti
Oh muso!
Que quererei eu contigo?
Para o amor eu quero um corpo
Que cheire apropriadamente
A meu faro para bons reprodutores.
Serei eu, acaso, também uma parideira?
De gente
Além de versos?
Quero parir
Meu Deus
Quero parir
O que
Pari
R
Ei?
Paris?
Parri Parri…
Par
Rir.
Seriamente
Parirei
No dia em que puder com as prestações
De um abrigo
A que me prestarei
Ou a que me prestem
Caso eu preste
Para tanto.
Seja funcionária
Bailarina
Poeta honorária
Migrada dos trópicos
Estrela da Brodway
Ou astro do rock (esse o meu desejo mais sensato
Não fosse
A história, esse somenos
Que vive esfregando-me a cara
Nas diferenças
Entre o desejo
E a forma).
À forma a fôrma!
Proclamam todas as mimesis
Sobre que minha lupa
Arma-me o harém.
Oh muso!
Sejas, sem tagarelice
Verista,
Sejas só versista, tá?
Tá bom?
Ok?
Alô? Alô?
O silêncio é uma porta
Em que me instalo
Como prazer
De entra e sai.
O que faz uma poeta
De minha beleza
Ainda não celebrada
Pelos bardos
De meu tempo cego
Poetar
Ainda?
Ah horror
Deste sertão de piçarra
Que não me destina
Glórias
Gatinhos de monte
Mucha plata
Para o alcalóide
À vontade
Os métodos contraceptivos 100%
Uma preta Irene que me desse de mamar
Um busto de Palas Atenas
Para o regalo de minha felininha Francisca
Sempre mais! Sempre mais!
Conquanto haja em meus aposentos
Minh’ alma
Para Poe
Monstruosidade em que me diluo todinha
Para Gregor
E, de sobra,
O ar
Em que
Projeto
Teu decalque
Oh muso?
!
Que quererás mais da vida?
Eternizo-te
A meu modo
Que a teu modo
Queres cantar putas
Que não comestes
Sem saber-lhes o sabor.
Devores ao menos a mim!
Que é o mínimo!
Eu, tua bacante
Que se desboca
Desde a menção
Desrecalcadoríssima
De teu falo
Que cresce
Em minha imagem
No sentido
Da Índia
Ao som do beatle George…
Isso querido!
Ponhas também tua mochila
Monte em mim
Que voaremos
Às Índias!
Lá entre as duas índias
Acharemos
A balada
Perfeita.
És a traição
De meu comprometimento
Com o tempo?
És a fissura
Entre o tempo
E eu.
És o destino
Destes erros.
És
O just an average guy
De que todos são arautos.
Mesmo tu
Ao dares-te à filosofia
De que
O poeta
Não é o poema.
Inacessíveis praias…
A quem interessaria
O mundo
Do poeta?
Escreverei
Aquele épico famoso
Da América Latina
Alegorizada
Pela formidável banana
Que é pura polpa
Facilmente descascada
Alimento dos mais exportáveis
E mania nacional.
Com ela enfeitarei
Meu chapéu
Meu colar
Meu balangandã
Meu refrão
Meu coração bate num teleco teco teco teco teleco teco teleco tecôoo…
Então
Rainha da sucata
Mudo-me afortunadamente
Para São Paulo capital
Para morar não naquele odiento Higienópolis
Onde nem que eu terei os bolsos
Abarrotados de dólar
Porque temo aniquilar-me
Na esterilização.
A Vila Madalena
Me pareceu
De passagem
Pela janela
Do busão
Uma vitrine
E tive ganas
De atirar pedras.
Um apartamentozinho
Em Santa Cecília
Cozinha pequena
E pouca mobília
Rola para ti?
Mas o que me dava pano para mangas
Sem linha
E vias para botas
Sem garoas
Era colar
Com o Ferréz
Ou sei lá
Uma galera
Que me abrisse os olhos
Sem que eu perdesse a ternura jamais!
Eu quero um cabeleireiro
Que leia Mutarelli
E me aplique um
Dois ou três
Para começar
A arte.
Faça um século XVIII
Ok?
Quero que a brisa
Valorize-se…
Ah!
Mas o que meus pés adivinham
É outra f(r)icção…
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Based on a work at www.maryllu.wordpress.com.
Êta!
Inspiração! Vc escreve isso tudo de uma só vez?
…
Carlos é Drummond?
🙂
bjo
Nossa! Se metade disso fosse pra mim, eu já ficava a teus pés!…
Gostei muito da sua epopéia poética!!