NOVINHA

Ela figura como heroína, no quadrinho erótico. Novinha. Se ela passa, o enquadramento olha no olho do sol. Quando ela vai, as formas orgânicas voltam ao mundo borrado, fundo de cena: cenouras mirradas, goiabas bichadas, pantanal puro mosquito ou apenas natureza sem edição… Pra dar emoção, ela tinha de permanecer lá, sempre passando… Parada, só não perde o encanto se a lente encontra nela um sonho qualquer e personagem para cenas seguidas, extensas, em série de temporadas indefinidas. A história ficaria cada vez mais desconexa e a gente não podendo perder um eventual próximo episódio. A tarefa da lente cabe num romance destinado a Você. O método está no brilho da atenção matutina… ou a cena não dá liga, nem com aditivos… nem com subtrativos.

Mas Você quer sempre um hentai. Ou um road movie. Depois, pizza. Dormir, feito bebê. Levanta no domingo e sua senhora faz café na cozinha, de fundo. Lá, pela janela, ela ainda passa no brilho feérico do sol matinal. Dessa vez, meio transparente e desaparecendo depois do primeiro arbusto. Várias antes do almoço. Vai, pega o carro e penetra a velocidade. A tarde ainda, a tarde…

De noite, senta-se à meia luz, bebe, fuma e põe o Wagner pra sacudir os vitrôs.

– Papai, podemos baixar um pouco o volume?

– Ah… claro, claro.

– Por que você escuta Wagner aos domingos?

Você faz aquela carinha de cachorro que caiu da mudança e combina que amanhã vai buscá-la na escola, de novo.

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NOVINHA de Maryllu de Oliveira Caixeta está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional.
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Uma resposta para “NOVINHA

  1. “Figura como heroína…” mas é ‘apenas’ uma menina que não é, meramente, ‘apenas’, por ser toda, toda, menina, entre passos perfeitamente passíveis de serem enquadrados sob olhares dos olhos do sol que se derramam em manhãs vespertinas, cheias de tardes matinais, em domingos wagnerianos!